top of page

ree

Eis-me aqui, aqui estou. Não vou a lugar algum, não sairei daqui.

Fico o tempo necessário. Sim, sim, já faz tempo que estou aqui;

tanto, que já nem me lembro mais.

Tenho o sol e a lua como relógio, mas, para quê contar o tempo?

Melhor do que contar o tempo, prefiro ouvir o que o Tempo

tem para me contar.

Assim, de cabeça para baixo, tudo está invertido:

o dia pode ser noite, e a noite pode ser dia.

Claro ou escuro, quem se importa?

quando fecho os olhos vejo com mais clareza do que quando estou de olhos abertos.

 

Sou o Pendurado, Enforcado é só um apelido.

Meu pé está atado, posso sair quando quiser.

Mas, nem sempre, querer é poder.

Quero, mas melhor não... Posso, mas não quero ainda.

 

Todos passam e me perguntam: “Pra quê ficar nessa situação desconfortável?”

Eu nem respondo, apenas sorrio. Acho que as pessoas têm dó,

(não sei se de mim, ou de si mesmas).

Sentir pena é penalizar o inocente colocando-o como impotente.

Sentem dó de mim porque me julgam fraco; fraco é quem não aguenta o próprio peso.

 

Estou suspenso como o tempo, sou a ausência de ação. Talvez, por isso, pareço inútil. Mas não sou utilitário, meu valor não se resume no que faço, mas em quem sou.

 

Eu sou o Pendurado, e o que eu faço todo o tempo é olhar a vegetação, olhar o chão,

e, assim, descobri fendas e texturas curiosas; e também percebi o cheiro das cores

e as cores do vento.

Parado, eu vejo o movimento que as pessoas em movimento não param para ver.

 

Muitos pensam que estou aqui de castigo, uma prisão sem paredes,

só porta de entrada, sem porta de saída.

Mas, de onde estou, sempre vejo alternativas.

 

Eu sou a pendência, o que precisa ser resolvido,

a pausa necessária, a redenção pelo sacrifício.

Sacro-ofício é estar a serviço do sagrado, o santo trabalho, o dever cumprido,

a feitura do que foi prometido.


Eu sou o momento da história sem o protagonista. 

Sou o personagem não muito querido: como um condenado excluído.

No exílio, faço disso potência; por mais que eu tenha errado, eu não sou o erro.

 

Eu, o Pendurado, venho te convidar à correção:

a suspensão é necessária para decantação da consciência.

Não se coloque no papel de vítima dizendo que sua vida está estagnada:

se você está paralisado, não há culpado, nem salvador.

 

Eu, o Pendurado, não espero resgate: não estou perdido nem fui sequestrado.

Não estou à espera de um milagre.

Eu sou o hiato necessário para você perceber que o milagre, na verdade, é você!

 
 
ree

Eu sou a Justiça, o entendimento, a harmonia;

sou neutra e isenta, sou objetiva e lenta.

Não tenho pressa, sou cuidadosa,

de olhos bem abertos, olho os fatos concretos,

não a abstração do que parece certo...

Não trago verdades, mas busco a veracidade

sei que cada pessoa é portadora de um pedaço da Verdade.

 

Eu sou aquilo que é justo, e o que é justo não aperta nem é largo.

Não largo a balança nem a espada

– sou a força do equilíbrio e o equilíbrio da força.

Sou a Justiça, a balança que oscila, a pendência, a cobrança.

Enxergo além do tempo, dos defeitos e das virtudes.

Sou causa e não efeito das diversas faces da sua atitude.

 

Poucos entenderão minha ação.

Não sou o partido ou a oposição, a vítima contra o ladrão;

não sou a punição, sou a correção; não sou o castigo, sou o perdão.

Não sou o esquecimento, sou a integração:

a paz só é possível quando a memória se torna memorial. 

 

Muitos me vêem como ajuste de contas, o justiceiro contra o algoz,

o salvador autoritário, o herói da causa própria.

Eu sou a autoridade e a lei: lei do karma, causa-efeito, ação e reação.

Direitos e deveres na mesma proporção.

 

Sou a lei do retorno e sei que ninguém é bonzinho o tempo todo.

Estou de olho: não para te julgar, mas para te ajudar a crescer.

 

Dizem que sou a justiça divina: vestem-me de Papai Noel,

como se eu trouxesse presentes pelo seu bom comportamento.

Ora, suas atitudes de amor, gentileza e honestidade

não são mais do que obrigação!

 

Parem de me idealizar como “causa ganha”. Não estou aqui para te defender,

nem ofender quem te ofendeu. Não vou proteger nem condenar,

-- a consciência é toda sua!

 

O seu ponto de vista é apenas a vista de um ponto, e todo mundo tem seu ponto cego.

Eu bem vejo o que você não está conseguindo ver: todo avesso tem o seu direito.

 

Eu, a Justiça, sou a conciliação, o entendimento entre as divergências

o equilíbrio das contradições, a convergência das diferenças.

A espada não é castigo, é corte necessário.

Espada de dois gumes – o que fere, será ferido; o que foi ferido, já feriu um dia.

 

Eu sou o momento de avaliar erros e acertos

Arrependimento e redenção, harmonia e humildade,

hora de ajustar os passos para readentrar o compasso.

 

Como em uma orquestra onde alguém errou o tom,

ou uma coreografia em que você tropeçou

– tudo bem, o que importa é que agora aprendeu.

E eu te pergunto: - O que você aprendeu?

 

Sou a imparcialidade, não tomo partido

como o próprio nome diz, "partido" é o oposto de unido.

Quando tudo está separado não há justiça, só caos e cada um por si.

O quebra-cabeça só é inteiro se todos estão.


Sou a Justiça, o ajuste do desajustado.

Ao invés de excluir, banir, exilar ou repudiar, te convido (e desafio!)

a ouvir antes de falar, pensar antes de agir,

sentir antes de reagir, e muitas vezes,

acolher, acenar e sorrir.

 
 
ree

Sem rodeios ou enrolação, sou a Roda da Fortuna:

a roda dos altos e baixos, os ciclos da natureza.

Sou como o circo que se faz e desfaz

a cada temporada;

embora no mesmo lugar,

sempre surpreendente.

 

A vida é um fio, não uma linha reta;

eu sou o carretel, e também um carrossel:

uma brincadeira de dar voltas no mesmo lugar,

um faz-de-conta de mudar sem se movimentar.

 

Pareço roda gigante ou pião ou ciranda,

mas não sou brinquedo nem estou de brincadeira,

sou quando você deixou de ser criança

mas precisa entrar na dança.

 

Sou a fenda no tempo, o portal da mudança,

o inesperado brincando de esconde-esconde.

Sou o imprevisível que interrompe a certeza,

o disruptivo que cutuca verdades feitas.

 

Comigo não há mesmice, nada se repete.

Sou o relógio cósmico com senso de humor:

faço tudo mudar ao meu redor.

Sou a Roda da Fortuna,

o equilíbrio entre Sol, Ascendente e Lua,

o ponto chave da engrenagem, o ponto da virada.

 

Minha fortuna não é o dinheiro, é o fortuito:

o que escapa do controle, a válvula de escape da rotina.

As pessoas querem as mudanças que elas querem.

Então, eu venho de surpresa... e dou um susto nelas!

(assim, meio sem querer, sorrateira, sem aviso prévio)

Em mim, o que estava em cima fica embaixo: proponho um novo aprendizado!

 

Sempre ouço as pessoas desejando galgar os degraus do sucesso.

Mas, na verdade, a Roda da Vida não é sobre voar e subir ao céu,

mas sobre pousar no destino e deixar que o céu se faça na terra.

Sou a roda que faz girar o seu propósito:

Prosperidade é Propósito em movimento!

 

Eu sou a roda do Tempo, a reviravolta, e volta e meia vamos dar!

Ciranda ou mandala, faço a energia circular!

 

Cada um é engenheiro do seu tempo, arquiteto da própria roda.

Mas, algumas rodas ficam quadradas, então empacam;

outras, triangulares, encalham.

- A roda que você construiu está, de fato, redonda?

 

Sou a Roda do Agora, espiral que eleva e transforma;

sou a Roda da Sorte, o olho que vê a solução do drama no centro da trama.

Sou o momento do desembaraço, em que você encontra o fio da meada

e se põe a tecer seu tapete vermelho, à medida em que caminha sobre ele.

 

Eu, a Roda da Fortuna, apareço bem quando você não quer! Mas é só para te ensinar:

Que mudar de rota não é derrota; e mesmo que tudo vire, uma hora desvira.

Há um eixo que não deixa a roda rolar. Esse é o ponto de poder:

no centro está você!

 
 

Onde Nasce o Futuro, por Lucélia Oshiro

©2018 by lucelia oshiro. Proudly created with Wix.com

bottom of page