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O futuro mudou! Apesar das inconstâncias e impermanências socioeconômicas, de certo modo, até 2019, tínhamos um vislumbre de futuro que obedecia a uma curva de tendências previsível. Por mais que os estudiosos falassem sobre o mundo V.U.C.A., ainda assim, parecia apenas um “caos controlável” decorrente de uma aceleração naturalmente contínua de mudanças provocadas pela exponencialidade tecnológica, e que afetava apenas a epiderme do comportamento e estética.


Relatórios de tendências já falavam sobre um grande reset nesse período, assim como astrólogos também prenunciavam abalos estruturais marcados pela passagem do revolucionário planeta Urano pelo estável signo de Touro. Fato é que estudiosos e sensitivos pressentiram a mudança de ares, mas a manifestação da coisa em si, só vendo e vivendo na própria pele...


É uma mudança de era, sem dúvida. Há quem diga que é uma transição planetária. Seja o que for, é a vida que vivemos agora, o mundo que temos hoje; um cenário onde não cabe nem o velho nem o novo normal. E, cá entre nós, o que vai ser normal daqui para frente? Em um cenário de feridas polarizadas e cicatrizes latejantes em todos os países e setores da economia, o bálsamo não é mais a normalidade (que soa até como indiferença), e sim a inovação.


Inovar, renovar, revigorar, respirar. Novos ares se fazem necessários: um oxigênio que vem do mundo das ideias, uma atmosfera menos densa e mais fluida que mescla criatividade e espiritualidade, evocando um poder de gestar um novo mundo. A contemporaneidade líquida ganha um novo estado, como nuvens esvoaçantes prenunciando dias mais airosos.


Talvez, transcendência seja a palavra. Passado o choque ou a alienação, recorremos à capacidade evolutiva de adaptação de todo ser vivo; não nos moldando às circunstâncias, mas conforme (e apesar) das circunstâncias. É preciso sacodir a poeira sem esquecer o tombo, não deixar a dor se transformar em sofrimento, e ser capaz de transformar o veneno em antídoto.


Como usar a experiência para evoluir, enquanto indivíduo ou corporação? Como extrair de si as melhores habilidades criativas, recombinar recursos disponíveis e construir estruturas robustas pautadas na equidade e solidariedade? Como apaziguar, reequilibrar e restaurar a natureza e os relacionamentos para que a vida seja ainda, sustentável? Como aprimorar a tecnologia sem que ela nos aprisione em vícios ou vigilância? Como recombinar trabalho, casa, propósito e prosperidade, a partir da ressignificação de conceitos como sucesso, tempo e felicidade?


Valores ultrapassados estão em colapso, e a culpa não é de Urano em Touro. É preciso assumir a responsabilidade individual pelo coletivo, ao invés de nos escondermos na massa. É preciso reorganizar a tal economia criativa, pois como já foi escrito uma vez, no início era o caos e o vazio; depois veio a criação.


Diante da invisibilidade de sorrisos encobertos pelas máscaras, e do toque refreado besuntado em álcool gel, somos convidados a “olhar com olhos de querer ver”, e instigados a encontrar solução dentro do problema. Tal como Michelângelo, que via as esculturas prontas dentro do bloco de pedra e apenas retirava as aparas, o desafio é ampliar a percepção ao nível dos artistas e visionários.


O futuro chegou. Veio mais rápido do que o previsto, e de um jeito diferente do que imaginávamos. Ele é exigente e a tarefa está dada; porém, a questão não é de exatas, nem de biológicas, nem mesmo de humanas... A prova é de criatividade!

 
 

As novas dinâmicas de trabalho e o contexto de mercado acirrado, concomitante à popularização do modelo agile, avanços em machine learning e inteligência artificial apontam para uma competência cada vez mais importante: a criatividade.


A criatividade não é imitável, não é substituível, não é artificial. É exclusiva, única, natural. Não é um certificado a mais para se destacar no mercado de trabalho, mas uma habilidade humana a ser praticada nas atividades cotidianas.


O entendimento sobre criatividade transita entre o glamour e o preconceito: do achismo de que todo criativo é artista chiquérrimo ou louco revolucionário. Não há meio termo, e a criatividade ora é vista como uma benção, ora como uma maldição.


Para além do aspecto inventivo e fantasioso, a criatividade dialoga com o senso de responsabilidade. Sim, trata-se de um comprometimento tão grande que se tem com a própria verdade interna, que não se pode ignorar, é preciso expressar as ideias que estão dentro de si. Ser criativo é ser honesto com aquilo que se acredita, ter coragem de se expor sem vaidade, e ser cordial no modo de colocar sua criação a serviço do mundo.


Criatividade não se restringe à expressão através da comunicação ou da arte, mas se expande em inesgotáveis formas de materializar sua mensagem no mundo, à maneira particular de cada indivíduo. Em um contexto marcado pela busca do propósito e autenticidade, as pessoas estão cada vez mais atentas a essa voz interior, e têm se perguntado: -- qual a obra, o legado que eu quero deixar ao mundo? E você, qual o seu papel no mundo?


A atividade artística funciona como descompressão, pois traz foco, concentração, relaxamento, tempo para si, satisfação pessoal. Além disso, é uma forma de empoderamento, pois foi você quem fez. É transformador, porque você se percebe capaz.


Bem-estar e criatividade, portanto, se conectam nesse ponto de intersecção entre “ser” quem você é, e “estar” aqui agora, no tempo presente.


Uma vez li uma frase que dizia que “as pessoas estão menos consumistas, mas cada vez mais imediatistas”. Isso me intrigou, pareceu um contrassenso... as pessoas querem economizar tempo, não porque têm coisas demais pra fazer, mas porque têm conteúdos demais para absorver, o que continua sendo um consumismo... de entretenimento, de mídia, de ideias alheias. E onde estão as suas próprias ideias?


Não estou falando que “ser criativo” é encher as redes sociais com fotos e posts, gerar conteúdos vazios que quase ninguém lê; não é produzir a todo custo, mas expor o que faz sentido, trazer novos sentidos, ressignificar.


Ser criativo é ter um olhar crítico sobre as coisas do dia a dia, ter um olhar apurado, reajustar, reparar, re-parar e olhar de novo, olhar o espelho, olhar o outro, olhar o mundo com calma, com alma. Ser criativo requer uma folha em branco, um respiro, um momento de descompressão, uma prática artística que te desafie a sair de onde você está para onde você pode ir.

 
 

Onde Nasce o Futuro, por Lucélia Oshiro

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