- Lucelia Oshiro
- 8 de jul. de 2024
- 2 min de leitura

Não é tanto o que você fala, mas o que você faz.
Podia acabar nossa conversa sem mesmo começar.
Mas, vamos andando...
Sabe, já fui Louco, um dia, agora sou Sábio.
Pelo menos, é o que dizem.
Eu não sei mais do que ninguém, mas sei de muita coisa,
não sobre o mundo todo, mas sei um pouco de muito.
Na verdade, todo mundo é sábio das coisas que já viveu.
Cada pessoa é um universo: um único verso,
nem chega a ser poesia inteira..
Nem por isso menos importante, nem por isso menos belo.
A beleza é ir maturando no tempo.
E, por falar em Tempo... o tempo é todo ele, uma coisa só:
passado, presente e futuro, tudo embolado assim feito um novelo de luz.
Viver é ir desenrolando esse emaranhado de fio: com calma e paciência.
Sabe, essa lanterna que eu carrego? Como dizem, é a luz na escuridão.
Mas, e se não tiver ninguém olhando: a claridade tem serventia para olho fechado?
Acham que busco iluminação
mas o maior mestre não é o que se torna iluminado, e sim,
quem é Iluminador.
Dentro dessa lanterna tem azeite, e para fazer azeite
é preciso esmagar a azeitona.
Toda benção requer uma forja,
e quanto maior a luz, maior a sombra.
Tem coisa na vida que não faz muito sentido. O jeito é inventar o sentido.
O sentido é um sentir, e não um explicar.
Dizem que sou enigmático...
Sou só solitário, não costumo conversar.
Perdi o costume de falar; falo só comigo mesmo e, às vezes,
nem eu mesmo me entendo.
Então, a conversa é curta porque eu fico dias tentando entender
o que eu mesmo quis dizer.
Meus pés estão amarrados ao fio da vida
E com meus passos vou desenhando poesia na terra batida;
Por onde ando vou deixando rastros dos meus versos:
a linha do tempo e a linha da vida são partitura da partida.
Já estou de saída...
Está escrito: “Tire as sandálias dos pés, porque o solo onde pisa é sagrado”
Não é o terreno, são os pés. Onde você pisa se torna sagrado,
Por onde você caminha é o caminho.
Eu sou o ancião, o irmão mais velho da humanidade,
o que aconselha e que fala o necessário,
mas nunca o bastante
deixo reticências porque o encanto está no silêncio:
entre cada nota, há vazio; entre cada letra, há espaço.
Senão, ficaria tudo amontoado. A beleza está na restrição.
Uma argila disforme é só um monte de terra dispersa
Uma escultura sempre tem limite e contenção.
Sou o peregrino noturno, a guiança
o retiro, a ausência, o mergulho nas sombras;
sou as palavras esmaecidas na página escrita
o código oculto que decifra o pergaminho.
Eu, o Eremita, te convido a parar e perceber:
- O que você está escondendo em si mesmo?
É mais fácil lidar com a sombra
do que assumir sua própria luz!
- Lucelia Oshiro
- 5 de jul. de 2024
- 2 min de leitura

No contraste dos opostos faço minha morada,
Na sutileza do equilíbrio construo minha fortaleza.
Leão ou Anjo? Instinto ou refinamento?
Não é um ou outro; sou um e outro.
A fúria e a delicadeza, o ímpeto e a paciência:
sou a Força, a vontade e a resistência.
Controlo meus passos para ganhar espaço:
não preciso abrir caminhos pois eles já estão abertos.
Domino meus fantasmas com a firmeza do olhar,
sou a Força do coração, a coragem e o caráter.
Sou o momento em que a vida te chama para a briga
E você aceita o desafio: vale a pena sonhar!
Não tenho pressa, não é competição, é enfrentamento
Para seguir em frente, preciso vencer minhas feras
A benção virá do oponente, com respeito
Pois a luta não é contra, é junto.
Não é sobre ganhar ou perder
Não é sobre medalha ou poder:
A batalha é dentro, o grito é contido
haja o que houver, honre o inimigo.
Eu, a Força, sou o que te anima e te sustenta
o sorriso e o abraço; não a força do braço,
de mãos dadas, dedos entrelaçados,
estamos juntos, de compromisso firmado.
Sou a Força do estar perto, a conexão, a união
Não dos opostos, mas dos dispostos
que diante de contradições não se retraem
nem se distraem, nem traem seus pares.
Eu, a Força, sou bem diferente do esforço.
Não sou a vida difícil, sangue, suor e lágrimas
Não sou o desgaste de fazer tudo a qualquer preço
Nem a falsa importância de nunca ter tempo!
Sempre há tempo: quem não tem tempo
está fugindo, fingindo que vive,
pois só na morte não há tempo para a vida.
Sou a potência, duas faces da mesma energia
E sei que há tempo de paz e há tempo de guerra
Há tempo de construir e tempo de destruir
Há tempo de observar e tempo de conquistar.
Eu sou a Força da Vida, a potência, a promessa,
a dupla dinâmica, masculino e feminino:
a semente chamada paixão
e sua chama gêmea, compaixão.
- Lucelia Oshiro
- 3 de jul. de 2024
- 2 min de leitura

Carro ou carruagem, carrego coragem;
veículo da vitória, não há batalha sem glória.
Eu, o Carro, te levo e elevo, mas antes me responda:
- Para onde vamos?
Carro ou carroça, não importa de onde você parte
– o início é parte essencial da vitória.
Eu te transporto, e o trajeto vai ser longo
Mas comigo, tudo fica perto.
Pensa bem: Em qual direção devo seguir?
E eu irei, nem tanto pra lá ou pra cá;
o caminho do meio é seguro e certo.
Direto e reto, sem hesitar; decide e vamos!
Se houver uma curva, eu contornarei,
e nos altos e baixos, continuarei.
E seguirei te levando, daqui pra lá, e de lá adiante.
Além, e avante!
Eu, o Carro, não sou sozinho:
sou a sinergia, a conexão, roteiro sem baldeação.
Não há obstáculo que me pare,
não há lugar que eu não alcance.
Sou a velocidade, a intensidade, a fúria e a força,
o desejo de chegar primeiro, a vontade de ir mais longe.
Alcanço horizontes sem linha de chegada,
construo pontes, desconstruo distâncias.
Eu profetizo: de peito aberto ao desconhecido,
de corpo fechado você está protegido.
Não há bloqueio nem atraso:
o tempo voa e você tem asas.
Eu vou e vôo,
não páro e não desisto.
Mas, antes, eu te pergunto:
- Qual o seu objetivo?
Eu, o Carro, sou o fogo
que se alastra sem alarde,
a correnteza que ganha certeza
entre a nascente e o mar
o vento que sopra a favor do barco,
aliviando a mão que controla o remo.
Sou o ferro, a construção, o elo com o moderno
o duelo com o parado, o dueto conjugado:
o que puxa e o que é puxado,
a combinação: movimento e direção.
Não tenho rédeas, nem retrovisor
Nem marcha a ré, apenas Vou!
Já nem sei de onde vim, o que importa é onde estou.
Eu, o Carro, sou a certeza de que você já chegou!


