top of page
ree

Não é tanto o que você fala, mas o que você faz.

Podia acabar nossa conversa sem mesmo começar.

Mas, vamos andando...


Sabe, já fui Louco, um dia, agora sou Sábio.

Pelo menos, é o que dizem.

Eu não sei mais do que ninguém, mas sei de muita coisa,

não sobre o mundo todo, mas sei um pouco de muito.

Na verdade, todo mundo é sábio das coisas que já viveu.


Cada pessoa é um universo: um único verso,

nem chega a ser poesia inteira..

Nem por isso menos importante, nem por isso menos belo.

A beleza é ir maturando no tempo.

E, por falar em Tempo... o tempo é todo ele, uma coisa só:

passado, presente e futuro, tudo embolado assim feito um novelo de luz.

Viver é ir desenrolando esse emaranhado de fio: com calma e paciência.

 

Sabe, essa lanterna que eu carrego? Como dizem, é a luz na escuridão.

Mas, e se não tiver ninguém olhando: a claridade tem serventia para olho fechado?


Acham que busco iluminação

mas o maior mestre não é o que se torna iluminado, e sim,

quem é Iluminador.

Dentro dessa lanterna tem azeite, e para fazer azeite

é preciso esmagar a azeitona.

Toda benção requer uma forja,

e quanto maior a luz, maior a sombra.


Tem coisa na vida que não faz muito sentido. O jeito é inventar o sentido.

O sentido é um sentir, e não um explicar.

 

Dizem que sou enigmático...

Sou só solitário, não costumo conversar.

Perdi o costume de falar; falo só comigo mesmo e, às vezes,

nem eu mesmo me entendo.

Então, a conversa é curta porque eu fico dias tentando entender

o que eu mesmo quis dizer.

 

Meus pés estão amarrados ao fio da vida

E com meus passos vou desenhando poesia na terra batida;

Por onde ando vou deixando rastros dos meus versos:

a linha do tempo e a linha da vida são partitura da partida.

Já estou de saída...

 

Está escrito: “Tire as sandálias dos pés, porque o solo onde pisa é sagrado”

Não é o terreno, são os pés. Onde você pisa se torna sagrado,

Por onde você caminha é o caminho.

 

Eu sou o ancião, o irmão mais velho da humanidade,

o que aconselha e que fala o necessário,

mas nunca o bastante

deixo reticências porque o encanto está no silêncio:

entre cada nota, há vazio; entre cada letra, há espaço.

Senão, ficaria tudo amontoado. A beleza está na restrição.

Uma argila disforme é só um monte de terra dispersa

Uma escultura sempre tem limite e contenção.

 

Sou o peregrino noturno, a guiança

o retiro, a ausência, o mergulho nas sombras;

sou as palavras esmaecidas na página escrita

o código oculto que decifra o pergaminho.

Eu, o Eremita, te convido a parar e perceber:

- O que você está escondendo em si mesmo?

É mais fácil lidar com a sombra

do que assumir sua própria luz!

 
 
ree

No contraste dos opostos faço minha morada,

Na sutileza do equilíbrio construo minha fortaleza.

Leão ou Anjo? Instinto ou refinamento?

Não é um ou outro; sou um e outro.

 

A fúria e a delicadeza, o ímpeto e a paciência:

sou a Força, a vontade e a resistência.

Controlo meus passos para ganhar espaço:

não preciso abrir caminhos pois eles já estão abertos.

 

Domino meus fantasmas com a firmeza do olhar,

sou a Força do coração, a coragem e o caráter.

Sou o momento em que a vida te chama para a briga

E você aceita o desafio: vale a pena sonhar!

 

Não tenho pressa, não é competição, é enfrentamento

Para seguir em frente, preciso vencer minhas feras

A benção virá do oponente, com respeito

Pois a luta não é contra, é junto.

 

Não é sobre ganhar ou perder

Não é sobre medalha ou poder:

A batalha é dentro, o grito é contido

haja o que houver, honre o inimigo.

 

Eu, a Força, sou o que te anima e te sustenta

o sorriso e o abraço; não a força do braço,

de mãos dadas, dedos entrelaçados,

estamos juntos, de compromisso firmado.

 

Sou a Força do estar perto, a conexão, a união

Não dos opostos, mas dos dispostos

que diante de contradições não se retraem

nem se distraem, nem traem seus pares.

 

Eu, a Força, sou bem diferente do esforço.

Não sou a vida difícil, sangue, suor e lágrimas

Não sou o desgaste de fazer tudo a qualquer preço

Nem a falsa importância de nunca ter tempo!

Sempre há tempo: quem não tem tempo

está fugindo, fingindo que vive,

pois só na morte não há tempo para a vida.

 

Sou a potência, duas faces da mesma energia

E sei que há tempo de paz e há tempo de guerra

Há tempo de construir e tempo de destruir

Há tempo de observar e tempo de conquistar.

 

Eu sou a Força da Vida, a potência, a promessa,

a dupla dinâmica, masculino e feminino:

a semente chamada paixão

e sua chama gêmea, compaixão.

 
 
ree

Carro ou carruagem, carrego coragem;

veículo da vitória, não há batalha sem glória.

Eu, o Carro, te levo e elevo, mas antes me responda:

- Para onde vamos?

 

Carro ou carroça, não importa de onde você parte

– o início é parte essencial da vitória.

Eu te transporto, e o trajeto vai ser longo

Mas comigo, tudo fica perto.

 

Pensa bem: Em qual direção devo seguir?

E eu irei, nem tanto pra lá ou pra cá;

o caminho do meio é seguro e certo.

Direto e reto, sem hesitar; decide e vamos!

 

Se houver uma curva, eu contornarei,

e nos altos e baixos, continuarei.

E seguirei te levando, daqui pra lá, e de lá adiante.

Além, e avante!

 

Eu, o Carro, não sou sozinho:

sou a sinergia, a conexão, roteiro sem baldeação.

Não há obstáculo que me pare,

não há lugar que eu não alcance.

 

Sou a velocidade, a intensidade, a fúria e a força,

o desejo de chegar primeiro, a vontade de ir mais longe.

Alcanço horizontes sem linha de chegada,

construo pontes, desconstruo distâncias.

 

Eu profetizo: de peito aberto ao desconhecido,

de corpo fechado você está protegido.

Não há bloqueio nem atraso:

o tempo voa e você tem asas.

 

Eu vou e vôo,

não páro e não desisto.

Mas, antes, eu te pergunto:

- Qual o seu objetivo?

 

Eu, o Carro, sou o fogo

que se alastra sem alarde,

a correnteza que ganha certeza

entre a nascente e o mar

o vento que sopra a favor do barco,

aliviando a mão que controla o remo.

Sou o ferro, a construção, o elo com o moderno

o duelo com o parado, o dueto conjugado:

o que puxa e o que é puxado,

a combinação: movimento e direção.

 

Não tenho rédeas, nem retrovisor

Nem marcha a ré, apenas Vou!

Já nem sei de onde vim, o que importa é onde estou.

Eu, o Carro, sou a certeza de que você já chegou!

 
 

Onde Nasce o Futuro, por Lucélia Oshiro

©2018 by lucelia oshiro. Proudly created with Wix.com

bottom of page