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Arcano O Eremita

Atualizado: 28 de out. de 2024

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Não é tanto o que você fala, mas o que você faz.

Podia acabar nossa conversa sem mesmo começar.

Mas, vamos andando...


Sabe, já fui Louco, um dia, agora sou Sábio.

Pelo menos, é o que dizem.

Eu não sei mais do que ninguém, mas sei de muita coisa,

não sobre o mundo todo, mas sei um pouco de muito.

Na verdade, todo mundo é sábio das coisas que já viveu.


Cada pessoa é um universo: um único verso,

nem chega a ser poesia inteira..

Nem por isso menos importante, nem por isso menos belo.

A beleza é ir maturando no tempo.

E, por falar em Tempo... o tempo é todo ele, uma coisa só:

passado, presente e futuro, tudo embolado assim feito um novelo de luz.

Viver é ir desenrolando esse emaranhado de fio: com calma e paciência.

 

Sabe, essa lanterna que eu carrego? Como dizem, é a luz na escuridão.

Mas, e se não tiver ninguém olhando: a claridade tem serventia para olho fechado?


Acham que busco iluminação

mas o maior mestre não é o que se torna iluminado, e sim,

quem é Iluminador.

Dentro dessa lanterna tem azeite, e para fazer azeite

é preciso esmagar a azeitona.

Toda benção requer uma forja,

e quanto maior a luz, maior a sombra.


Tem coisa na vida que não faz muito sentido. O jeito é inventar o sentido.

O sentido é um sentir, e não um explicar.

 

Dizem que sou enigmático...

Sou só solitário, não costumo conversar.

Perdi o costume de falar; falo só comigo mesmo e, às vezes,

nem eu mesmo me entendo.

Então, a conversa é curta porque eu fico dias tentando entender

o que eu mesmo quis dizer.

 

Meus pés estão amarrados ao fio da vida

E com meus passos vou desenhando poesia na terra batida;

Por onde ando vou deixando rastros dos meus versos:

a linha do tempo e a linha da vida são partitura da partida.

Já estou de saída...

 

Está escrito: “Tire as sandálias dos pés, porque o solo onde pisa é sagrado”

Não é o terreno, são os pés. Onde você pisa se torna sagrado,

Por onde você caminha é o caminho.

 

Eu sou o ancião, o irmão mais velho da humanidade,

o que aconselha e que fala o necessário,

mas nunca o bastante

deixo reticências porque o encanto está no silêncio:

entre cada nota, há vazio; entre cada letra, há espaço.

Senão, ficaria tudo amontoado. A beleza está na restrição.

Uma argila disforme é só um monte de terra dispersa

Uma escultura sempre tem limite e contenção.

 

Sou o peregrino noturno, a guiança

o retiro, a ausência, o mergulho nas sombras;

sou as palavras esmaecidas na página escrita

o código oculto que decifra o pergaminho.

Eu, o Eremita, te convido a parar e perceber:

- O que você está escondendo em si mesmo?

É mais fácil lidar com a sombra

do que assumir sua própria luz!

 
 
 

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Onde Nasce o Futuro, por Lucélia Oshiro

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