Arcano O Eremita
- Lucelia Oshiro

- 8 de jul. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 28 de out. de 2024

Não é tanto o que você fala, mas o que você faz.
Podia acabar nossa conversa sem mesmo começar.
Mas, vamos andando...
Sabe, já fui Louco, um dia, agora sou Sábio.
Pelo menos, é o que dizem.
Eu não sei mais do que ninguém, mas sei de muita coisa,
não sobre o mundo todo, mas sei um pouco de muito.
Na verdade, todo mundo é sábio das coisas que já viveu.
Cada pessoa é um universo: um único verso,
nem chega a ser poesia inteira..
Nem por isso menos importante, nem por isso menos belo.
A beleza é ir maturando no tempo.
E, por falar em Tempo... o tempo é todo ele, uma coisa só:
passado, presente e futuro, tudo embolado assim feito um novelo de luz.
Viver é ir desenrolando esse emaranhado de fio: com calma e paciência.
Sabe, essa lanterna que eu carrego? Como dizem, é a luz na escuridão.
Mas, e se não tiver ninguém olhando: a claridade tem serventia para olho fechado?
Acham que busco iluminação
mas o maior mestre não é o que se torna iluminado, e sim,
quem é Iluminador.
Dentro dessa lanterna tem azeite, e para fazer azeite
é preciso esmagar a azeitona.
Toda benção requer uma forja,
e quanto maior a luz, maior a sombra.
Tem coisa na vida que não faz muito sentido. O jeito é inventar o sentido.
O sentido é um sentir, e não um explicar.
Dizem que sou enigmático...
Sou só solitário, não costumo conversar.
Perdi o costume de falar; falo só comigo mesmo e, às vezes,
nem eu mesmo me entendo.
Então, a conversa é curta porque eu fico dias tentando entender
o que eu mesmo quis dizer.
Meus pés estão amarrados ao fio da vida
E com meus passos vou desenhando poesia na terra batida;
Por onde ando vou deixando rastros dos meus versos:
a linha do tempo e a linha da vida são partitura da partida.
Já estou de saída...
Está escrito: “Tire as sandálias dos pés, porque o solo onde pisa é sagrado”
Não é o terreno, são os pés. Onde você pisa se torna sagrado,
Por onde você caminha é o caminho.
Eu sou o ancião, o irmão mais velho da humanidade,
o que aconselha e que fala o necessário,
mas nunca o bastante
deixo reticências porque o encanto está no silêncio:
entre cada nota, há vazio; entre cada letra, há espaço.
Senão, ficaria tudo amontoado. A beleza está na restrição.
Uma argila disforme é só um monte de terra dispersa
Uma escultura sempre tem limite e contenção.
Sou o peregrino noturno, a guiança
o retiro, a ausência, o mergulho nas sombras;
sou as palavras esmaecidas na página escrita
o código oculto que decifra o pergaminho.
Eu, o Eremita, te convido a parar e perceber:
- O que você está escondendo em si mesmo?
É mais fácil lidar com a sombra
do que assumir sua própria luz!






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