Arcano O Diabo
- Lucelia Oshiro

- 22 de jul. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 25 de out. de 2024

Saudações! Sou a sedução, o poder, o vício, a tentação;
a conquista a qualquer preço, o exagero, a manipulação.
Sou o apego, o ego, o defeito, o ponto cego;
sou seu ponto fraco, fraqueza e fracasso.
Eu não sou o inimigo, sou a sombra que te habita,
fragilidade vestida de hipocrisia.
Sou o Bezerro de Ouro, a idolatria ao grátis e instantâneo
– eu quero, e quero agora!
Mas, se atalho fosse caminho, assim se chamaria!
Dizem que sou o pecado, o malvado, a maldição.
Sou apenas sua pena, seu sofrimento de estimação.
Pena é algo leve - por que você faz ficar tão pesado?
Eu sou o medo que acorrenta, a vaidade que ilude;
a preguiça que aliena, a luxúria inebriante.
Sou a gula, a ganância, a vontade insaciável,
a ira exacerbada, a escravidão escancarada.
Sou o Diabo, o conto do vigário,
a mentira que você conta para si mesmo.
É fácil jogar a culpa nesse velho bode expiatório;
mas já estou acostumado com quem não assume os próprios erros.
Não sou o castigo, não venho cobrar karma.
Sou o algoz com convite, o carrasco convidado.
Você acha que está no comando, você acha que está no controle;
mas esse é o meu domínio, e apenas observo.
Você busca culpados, pois o inferno são os outros;
você fecha os olhos e finge não ver... dá um jeitinho, ignora... só mais essa vez...
E assim fica enredado na própria desculpa esfarrapada.
E nos farrapos que se alastram e se arrastam,
entre trancos e barrancos, você vai estagnando,
achando que está vivendo quando, na verdade, está apenas tentando.
Sou a prisão conhecida e escolhida por opção
em detrimento da liberdade desconhecida:
o reflexo sombrio do seu potencial desperdiçado!
Eu, o Diabo, sou o poder, o prazer e a posse,
que poderiam ser vivenciados sem culpa ou corrupção.
O Poder, não a possessão, não a obsessão;
a capacidade de descer às profundezas, e desenterrar seu tesouro:
-- é no profundo e na sombra que descansa sua essência. Acorda!
Eu, o Diabo, não conheço limites, sou ousado e sagaz;
a bem da verdade, tudo o que falo não é mentira.
Sou a sombra projetada na parede, mas não sou uma ameaça:
sou a mordaça que abafa o seu grito de liberdade.
Liberdade não é ter tudo ou ser qualquer coisa que você quiser;
liberdade é ser quem você se dispõe a ser.
Então, eu te pergunto: - Cadê a sua disposição em bancar suas escolhas?
Liberdade não se compra, se conquista. Liberdade ganha é independência alugada;
é estar preso por falta de vontade.
Sem que você perceba, roubo seu tempo com pequenas distrações
e grandes adiamentos: provação, provocação, procrastinação.
Sou o Diabo, o anjo caído, a tentação do paraíso... Mas, veja bem...
o paraíso que você imagina, na verdade é o inferno:
um lugar de ócio e êxtase, o cúmulo do acúmulo,
cegueira compulsiva, consumo compulsório.
Inferno é viver alienado ou alucinado - uma morte não consumada.
Inferno é ser refém de meias verdades e mentiras inteiras.
Eu, o Diabo, sou o aviso do desvio: você está no submundo
-- um mundo que não é seu, vivendo uma vida que não é sua.
Saia enquanto pode.






Comentários