top of page

Arcano A Morte

Atualizado: 25 de out. de 2024


ree

Um dia eu venho, e algo se vai. Deixa de ser, deixa de estar, e se faz pó.

Só, no solo vazio, a semente aguarda; a solidão também morre, um dia.

Eu sou a Morte, estou com você em todo lugar, não à espreita, mas bem presente.

Não sou fantasma, nem sombra: sou luz no seu momento mais escuro.

Sou a benção oculta que você nem se dá conta

que fecha portas que não são suas, e encerra caminhos que não se abrem.

 

Muitos me temem, me culpam, ou rejeitam;

mas é melhor me aceitar, porque eu sou a única certeza

Outros dizem que eu faço o "serviço sujo”;

a bem da verdade o que eu faço é a limpeza,

faço o serviço que ninguém quer fazer.

Quando ninguém está vendo, elimino os excessos, purifico, reciclo, enterro.

Eu não me apego, e o ego se irrita.

Ah, o ego quer manter as aparências, ter tudo para sempre.

Mas, já aviso: para sempre é muito tempo. Você não aguentaria, seria monotonia.

 

Tudo morre e se renova. Tudo acaba para se tornar outra coisa.

A criança morre para ser adolescente; o jovem morre para se fazer adulto.

Mas há os que resistem à morte, e por isso atrofiam. Ficam na infância para sempre; paralisados no tempo que foi, usam uma roupa que já não serve mais.

 

A roupa tem sua serventia; mas você é que não serve mais para essa roupa.

Essa “roupa” é a casca com a qual você se acostumou...

como na cantiga, apenas “diga... adeus e vá simbora”.

Comigo você aprende a se acostumar com o fim da história.

 

Eu sou a Morte, e venho te apresentar novas paisagens.

Nem melhores, nem piores, apenas diferentes.

Sou a nova fase, a nova vida,

o reset do jogo, a volta por cima.


Também sou conhecida como Ceifador:

para que o trigo se torne alimento, é preciso ceifá-lo

do contrário, continuará sendo planta.

Não há nada que você possa fazer, apenas aceitar.

 

O tempo se esgotou, e escorre gota a gota de volta à terra.

É preciso saber enterrar seus mortos, seus sonhos abortados,

Seus planos em aberto, desapontamentos.

Um dia, o fóssil se torna petróleo, o petróleo, combustível.

Um dia, o cisco se torna pérola, e a pérola, raridade.

 

Eu sou a Morte, aquela que não tem idade,

de aparência esquelética que revela

que o que fica quando tudo vai embora, é só osso, e é tudo igual.

A aparência não importa, a experiência é passageira,

você não passa pela vida, a vida é que te transpassa.

Então, por favor, não me veja como inimiga. No fim, quem estará com você, serei só eu.

Eu Sou a Morte, sua parceira de Vida. E não há nada que você possa fazer.

Cuide da sua vida, que eu cuido da morte.

 
 
 

Comentários


Onde Nasce o Futuro, por Lucélia Oshiro

©2018 by lucelia oshiro. Proudly created with Wix.com

bottom of page