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6. A Porta (Arcano O Enamorado)

Faz um bom tempo que eles estão ali, parados

em frente à porta, de mãos dadas

mais curiosos que apreensivos,

ansiosos, mas hesitantes.

A porta, imponente e inabalável:

nem uma frestinha antecede o porvir

nem um só som por detrás se faz ouvir.

Paira apenas um ruído de grãos de areia caindo

dentro da ampulheta imaginária - o tempo urge

a alma se agita, não se pode mais adiar.


Há que ter coragem para fazer escolhas

- ouvir e agir com o coração. Então eles se entreolham

e como duas almas antigas e amigas

entendem o que precisa ser feito.

As mãos se desenlaçam, e juntas

empurram a porta, que suavemente desaparece.

À frente, um caminho

largo o suficiente para que cada um

ande seu passo, no seu espaço;

mas não tão largo que a amizade os perca de vista.


Foi uma bela viagem até aqui, e continuará sendo

paisagens diferentes trazem belezas diferentes…

Todo viajante quando sai de casa

não sabe bem o que busca

mas descobre o que é quando encontra -

de repente está lá, a porta.

Não é a porta que ele busca,

tampouco o que está além dela

é sim, a certeza cristalina

de uma força esquecida.


Há que ter coragem para abrir a porta

porque o que vem a seguir ninguém sabe

pode-se até intuir, mas enquanto há dúvida,

também há ilusão

e muitos preferem esse ópio

ao êxtase da realidade.

O bom viajante segue a bússola interna

e sabe que o caminho é temporário

só ou acompanhado, na verdade,

todo viajante é um pouco solitário.


E, da porta que juntos abriram,

se fez portal, uma moldura do vazio

não um vazio de esquecimento

mas um vazio de todas as possibilidades.

 
 
 

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Onde Nasce o Futuro, por Lucélia Oshiro

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