- Lucélia Oshiro
- 11 de dez. de 2023
- 1 min de leitura
Estou de mudança: mudo, como muda o mundo mudo, em silêncio ele se transforma assim também me mudo: muda, porque é na quietude que me reencontro.
Estou de mudança: no coração muita bagagem dos tantos anos vividos nas mãos, malas vazias do desapego e da liberdade.
Deixo para trás: nada tudo que importa segue em mim. Assim como o tempo segue em frente e sem remorso eu sigo no ritmo do meu querer a dançar passos que ainda vou aprender.
Sem me arrepender, sigo porque estou de mudança estou em mudança e não me importa ser chamada indecisa ou volúvel só eu sei quem eu sou quem eu fui e serei só eu sei que mesmo que eu mude ainda assim continuarei sendo eu.
- Lucelia Oshiro
- 10 de dez. de 2023
- 1 min de leitura
É como se eu nunca fosse parte
sempre isolada, exilada
é como se estivesse de fora
nômade, avulsa, banida, esquecida.
Como se estivesse sempre no meio
do caminho, quase chegando
mas nunca boa o suficiente.
E, de novo, a velha pergunta:
- Qual o meu papel no mundo?
Foi preciso tempo
idas e vindas a sós comigo mesma
buscando um papel social:
- Não sou chefe, não sou mãe
sou o quê, afinal?
E depois de uma temporada
e depois de um temporal
a velha pergunta assombrada:
- Qual o meu papel no mundo?
E a resposta que eu já sabia
veio com uma pergunta:
- Qual o papel do poeta,
senão coreografar palavras
e orquestrar uma beleza
que quase ninguém vê?
Mas, não é porque ninguém vê
que não importa
pois não é sobre ser visto, e sim,
sobre servir.
Ora, a serventia da poesia é dar vida
pois na inspiração, a gente nasce
e na expiração, a vida falece.
- Lucelia Oshiro
- 9 de dez. de 2023
- 1 min de leitura
Espelho
esse grande desconhecido
olhar cristalino, impenetrável
enigmático
indecifrável.
Decifra-me ou devoro-te
consome minha auto-imagem
digere e devolve
algo que não reconheço.
Na dúvida
se sou eu ou se é ele
o espelho faz graça
e disfarça-se em mim
e eu nele.
Já não me vejo, vejo outro
o espelho sou eu
mas não sou eu no espelho.


