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Estou de mudança: mudo, como muda o mundo mudo, em silêncio ele se transforma assim também me mudo: muda, porque é na quietude que me reencontro.


Estou de mudança: no coração muita bagagem dos tantos anos vividos nas mãos, malas vazias do desapego e da liberdade.

Deixo para trás: nada tudo que importa segue em mim. Assim como o tempo segue em frente e sem remorso eu sigo no ritmo do meu querer a dançar passos que ainda vou aprender.


Sem me arrepender, sigo porque estou de mudança estou em mudança e não me importa ser chamada indecisa ou volúvel só eu sei quem eu sou quem eu fui e serei só eu sei que mesmo que eu mude ainda assim continuarei sendo eu.


 
 

É como se eu nunca fosse parte

sempre isolada, exilada

é como se estivesse de fora

nômade, avulsa, banida, esquecida.

Como se estivesse sempre no meio

do caminho, quase chegando

mas nunca boa o suficiente.

E, de novo, a velha pergunta:

- Qual o meu papel no mundo?


Foi preciso tempo

idas e vindas a sós comigo mesma

buscando um papel social:

- Não sou chefe, não sou mãe

sou o quê, afinal?

E depois de uma temporada

e depois de um temporal

a velha pergunta assombrada:

- Qual o meu papel no mundo?


E a resposta que eu já sabia

veio com uma pergunta:

- Qual o papel do poeta,

senão coreografar palavras

e orquestrar uma beleza

que quase ninguém vê?

Mas, não é porque ninguém vê

que não importa

pois não é sobre ser visto, e sim,

sobre servir.

Ora, a serventia da poesia é dar vida

pois na inspiração, a gente nasce

e na expiração, a vida falece.

 
 

Espelho

esse grande desconhecido

olhar cristalino, impenetrável

enigmático

indecifrável.

Decifra-me ou devoro-te

consome minha auto-imagem

digere e devolve

algo que não reconheço.

Na dúvida

se sou eu ou se é ele

o espelho faz graça

e disfarça-se em mim

e eu nele.

Já não me vejo, vejo outro

o espelho sou eu

mas não sou eu no espelho.

 
 

Onde Nasce o Futuro, por Lucélia Oshiro

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