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Todo mundo já perdeu muita coisa na vida. Faz parte. O todo é feito de partes. Partes presentes e partes faltantes. Espaços preenchidos e espaços vazios.


Eu já perdi muita coisa. Das mais simples às não tão simples. Algumas perdi e já nem lembro; outras nem me dei conta de que foram perdidas. Outras perdi mas continuaram comigo; outras ainda, perdi mas no fim das contas, ganhei.


A gente já nasce perdendo: perdendo o conforto do útero; e também cresce perdendo: perdendo o colo, perdendo o brinquedo preferido esquecido em algum canto. Na adolescência, a gente perde a vergonha para falar com o crush da escola, perde o medo de desafiar os pais, perde a linha e briga na rua.


Na juventude, a gente perde dinheiro comprando tranqueira, perde o ônibus porque dormiu demais, perde o celular porque quis cortar caminho e tinha gente errada no momento errado… Já adultos, a gente perde o guarda-chuva porque anda distraído, perde o sono porque está preocupado, perde o livro que nem era seu, perde a vaga que deveria ser sua.


Por que a perda é negativa? Talvez porque dê a ideia de falta. A perda é um buraco, um vazio, um lugar oco. Mas quem disse que todo vazio é inútil e triste?


Isso me lembra uma brincadeira que eu li quando criança: o queijo suíço é cheio de buracos. Quanto mais queijo, mais buracos. Quanto mais buracos, menos queijo. Logo, quanto mais queijo, menos queijo. (pausa para pensar)


De verdade, as coisas são feitas de espaços vazios, pausas, respiros. A vida é cheia de buracos, e não podemos ignorá-los ou preenchê-los a todo custo. Talvez porque sejam os vazios que tornem a vida plena…


E já mais velhos, a gente segue perdendo: perde alguém da família, um amigo de infância, um bicho de estimação, um grande amor… A gente também perde a criança interior, perde o rumo — “o que eu deixei de ser quando cresci?”. Perde a perspectiva, a expectativa de um possível filho que não veio, perde a esperança de vez em quando.


Mas, tudo bem perder. Porque a gente recupera, segue em frente, esquece, lembra, sente saudade, supera. Perder não é negativo ou positivo, é simplesmente parte do todo. É uma parte da vida.


Eu perdi muita coisa até hoje, por outro lado, ganhei o seu oposto. Ao perder, o inverso se instala, como um jeito de entendermos a inteireza da nossa existência. Ironicamente, é o vazio das coisas perdidas a parte mais densa de quem somos.

 
 

O ritmo do tempo

é oposto ao nosso querer

se temos pressa, ele demora

se temos calma, ele vai embora.

O tempo não toma partido

é neutro, parte sem aviso

também chega de surpresa

sereno, sorrateiro

o tempo é engraçado, só faz cara de sério

o que ele quer mesmo é estar com a gente

de mansinho ou de repente.

O Tempo leva tempo

para se fazer

e na leveza dos seus passos

não deixa pegadas,

nem cicatrizes

vai embora sem ter tempo

de despedida.


O Tempo tem a tranquilidade de quem já foi,

o Tempo tem a transparência de quem já é.

 
 

Encha-se de fé e coragem

ancore-se nas virtudes e talentos

não saia buscando algo

mas fique, encontre a sua verdade.

- Inspire-se no sagrado que te habita!


Esvazie-se de medos e vergonhas

deixe para trás a armadura - que não é sua!

à frente, desvie da armadilha do ego

arme-se com a doce força do feminino

e ame-se, com a convicção de ser você.

 
 

Onde Nasce o Futuro, por Lucélia Oshiro

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